BRAZILIAN ECONOMY

  • 15-1968-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1967
  • 08-1984-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1983
  • 11-1992-capa-a-crise-do-estado
  • 09-1993-capa-economic-reforms-in-new-democracies
  • 10-1998-capa-reforma-do-estado-para-a-cidadania
  • 05-2009-capa-globalizacao-e-competicao
  • 13-1988-capa-lucro-acumulacao-e-crise-2a-edicao
  • 05-2010-capa-globalization-and-competition
  • 10-1999-capa-reforma-del-estado-para-la-ciudadania
  • 2006-capa-as-revolucoes-utopicas-dos-anos-60
  • 2014-capa-developmental-macroeconomics-new-developmentalism
  • 03-2018-capa-em-busca-de-desenvolvimento-perdido
  • 16-2015-capa-a-teoria-economica-na-obra-de-bresser-pereira-3
  • 06-2009-capa-construindo-o-estado-republicano
  • 07-2004-capa-democracy-and-public-management-reform
  • 05-2010-capa-globalixacion-y-competencia
  • 01-2021
  • 05-2009-capa-mondialisation-et-competition
  • 12-1982-capa-a-sociedade-estatal-e-a-tecnoburocracia
  • capa-novo-desenvolvimentismo-duplicada-e-sombreada
  • 04-2016-capa-macroeconomia-desenvolvimentista
  • 09-1993-capa-reformas-economicas-em-democracias-novas
  • 01-2021-capa-new-developmentalism
  • 02-2021-capa-a-construcao-politica-e-economica-do-brasil
  • 17-2004-capa-em-busca-do-novo

Qual é o problema da indústria brasileira?

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota no Facebook, 6.2.2019

A recuperação da indústria é decepcionante por três razões além do fato de a taxa de juros continuar alta e a taxa de câmbio ainda estar apreciada: porque a demanda de bens industriais tanto interna quanto externa continua baixa, porque o governo não realizou a política fiscal contracíclica necessária, e porque os empresários ainda não estão se sentido com confiança em relação ao governo.


Depois de uma brutal recessão (2014-2016) a economia brasileira voltou a crescer, mas muito lentamente. Os resultados da indústria de transformação são especialmente negativos. O crescimento em 2018 foi de apenas 1,3%, o deficit comercial da indústria voltou a aumentar, e o processo de desindustrialização continua a ser mais acentuado nos setores de alta e de média-alta tecnologia.

A explicação geral que eu tenho dado para a desindustrialização brasileira a partir de 1990 é a da armadilha de juros altos e câmbio apreciado no longo prazo. Essa armadilha promoveu duas ondas de desindustrialização, a primeira nos anos 1990, em função da abertura comercial e do desmantelamento do mecanismo que neutralizava a doença holandesa, e a segunda nos anos 2010, a partir do momento em que a taxa de câmbio, que se depreciara fortemente durante a crise financeira de 2002, voltou a se tornar fortemente apreciada no final do governo Lula: a preços de hoje, cerca de R$ 2.50 por dólar, quando a taxa de câmbio competitiva ou de equilíbrio industrial devia girar em torno de R$ 4,00 por dólar. No governo Dilma, houve uma desvalorização e a taxa de câmbio passou a girar em torno de R$ 3,20 por dólar, sempre a preços de hoje – incompatível com o crescimento industrial.

Este quadro mudou depois da recessão. Com a queda radical da demanda, a inflação caiu fortemente, e a taxa de juros, embora ainda alta, também caiu. Por outro lado, a taxa de câmbio depreciou-se e hoje está em torno de R$ 3,70 por dólar. Por que, então, a recuperação da indústria é tão decepcionante? A meu ver, por três razões além do fato de a taxa de juros continuar alta e a taxa de câmbio ainda estar apreciada: porque a demanda de bens industriais tanto interna quanto externa continua baixa, porque o governo não realizou a política fiscal contracíclica necessária, e porque os empresários ainda não estão se sentido com confiança em relação ao governo.

No caso da demanda mundial, ainda não se confirmou a recessão anunciada nos países ricos, mas a crise do regime liberal argentino é muito grande e teve um forte impacto na exportação brasileira de manufaturados. Quanto à falta de uma política contracíclica em um quadro de crise fiscal desde 2014, o problema está na falta de coragem ou na ortodoxia liberal do governo. Nem o governo Temer nem o governo Bolsonaro tiveram coragem e capacidade para lograr um forte aumento do investimento público e das empresas privadas concessionárias. Coragem porque essa política envolve uma aposta: que o gasto adicional em investimento público será menor do que o aumento da receita pública decorrente da retomada do crescimento que esses investimentos provocariam. Finalmente, em relação à falta de confiança no governo, ela é compreensível dada sua precariedade e as contradições que o definem. Os economistas liberais apostam na reforma da previdência para que volte essa confiança. Essa reforma é realmente necessária, deverá ser aprovada, e dará certa credibilidade para o governo. Não, porém, o suficiente para que o governo decida aumentar os investimentos, as empresas se sintam tranquilas, as oportunidades de investimento voltem a aparecer, e o Brasil volte a realmente crescer e realizar o alcançamento.