Luiz Carlos Bresser-Pereira
Isto é - Dinheiro/ 072, 13/01/1999
Tema: C&T no País
Entrevista à Revista Isto É
Enfim, a Defesa do Interesse Nacional.O novo ministro da Ciência e Tecnologia não rodeia: quer uma política agressiva de proteção às empresas baseadas no País. Sem entreguismo e sem o velho nacionalismo.
Dar prioridade às medidas que possam ganhar aprovação imediata dos credores internacionais? Apoiar o crescimento do País no financiamento com dinheiro vindo do Exterior? Tudo errado, garante o ministro da Ciência e Tecnologia, Luiz Carlos Bresser Pereira, empossado na segunda-feira, com um discurso contundente de crítica às "elites brasileiras". Bresser, ministro da Fazenda no governo Sarney; foi o primeiro a se bater, na década de 80, pela polêmica renegociação, com desconto, da dívida externa latino-americana, executada depois sob o nome de Plano Brady. Fora do Ministério da Administração, onde manteve um silêncio obsequioso sobre política econômica (rompido, porém, em suas freqüentes conversas com o presidente Fernando Henrique Cardoso), o novo ministro da Ciência e Tecnologia agora quer trazer para o debate econômico duas palavras em desuso: interesse nacional. O Estado não existe só para garantir contratos e financiar despesas na área social, argumenta Bresser, que fala numa política agressiva de defesa das empresas baseadas no Pais e já anunciou uma revisão dos incentivos tecnológicos hoje concedidos a multinacionais. Disciplinado, ele se recusa a comentar as decisões da equipe econômica ou fazer críticas ao acordo com o FMI. Mas não tenta disfarçar que é, neste segundo mandato, uma das principais vozes da política de desenvolvimento prometida pelo presidente Fernando Henrique, e sua fala tem uma sonoridade muito, muito diferente da que o País tem ouvido dos porta-vozes da economia oficial.
DINHEIRO — O que o sr. quis dizer quando, no discurso de posse, foi enfático ao defender o "interesse nacional"?
LUÍZ CARLOS BRESSER PEREIRA – É preciso diferenciar interesse nacional do velho ,nacionalismo, e vê-lo em relação também à posição entreguista, o velho entreguismo hoje chamado de política de confidence building (construção da confiança). O velho nacionalismo é uma posição antiestrangeiro: "Somos um país fraco, subdesenvolvido, os outros são imperialistas poderosos, querem nos explorar e temos de nos proteger". Do outro lado, a política de confidence building pensa "Os países estrangeiros estão interessadíssimos em nos ajudar, seus interesses e os nossos são comuns, podemos contar com eles para tudo e por tudo, esse negócio de Nação não existe mais". Entre essas duas posições, a política do interesse nacional diz que temos interesses comuns enormes com outros países, mas também temos interesses conflitantes e, caso a caso, vamos tentar saber qual é o nosso interesse nacional.
DINHEIRO — Por muito tempo evocou-se o interesse nacional para defender o protecionismo...
BRESSER — Esse é o velho nacionalismo. Falando com embaixadores amigos meus, eles me disseram que sua função fundamental no Brasil é defender os interesses de seu país, de suas empresas aqui. Os embaixadores não têm dúvida de que existem empresas americanas, alemãs, italianas, inglesas. E que é função oficial a defesa do interesse nacional. Que negócio é esse de que não existe interesse nacional? Estados Unidos, Inglaterra, Japão são protecionistas? Não. São países que acreditam no mercado, como eu, que sou defensor da abertura comercial, iniciada já na minha gestão no Ministério da Fazenda, com a reestruturação global de todas as tarifas. Eu já negociava empréstimos do Banco Mundial em troca da abertura comercial que eu queria fazer.
DINHEIRO — O sr. disse que o interesse nacional não é seguir essa política de confidence building, construindo confiança junto a credores e investidores internacionais...
BRESSER — Se confidence building significasse construir confiança junto aos credores, qualquer pessoa de bom senso deveria fazer isso. Mas essa política de confidence building a que me refiro é a que descobri no México do presidente Carlos Salinas: é a política de buscar atender a todas as demandas de Washington e, principalmente, de Nova York, ou seja, o se