BRAZILIAN ECONOMY

  • 05-2009-capa-mondialisation-et-competition
  • 04-2016-capa-macroeconomia-desenvolvimentista
  • 09-1993-capa-reformas-economicas-em-democracias-novas
  • 05-2010-capa-globalization-and-competition
  • 10-1998-capa-reforma-do-estado-para-a-cidadania
  • 13-1988-capa-lucro-acumulacao-e-crise-2a-edicao
  • 05-2009-capa-globalizacao-e-competicao
  • capa-novo-desenvolvimentismo-duplicada-e-sombreada
  • 17-2004-capa-em-busca-do-novo
  • 02-2021-capa-a-construcao-politica-e-economica-do-brasil
  • 06-2009-capa-construindo-o-estado-republicano
  • 08-1984-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1983
  • 05-2010-capa-globalixacion-y-competencia
  • 12-1982-capa-a-sociedade-estatal-e-a-tecnoburocracia
  • 01-2021
  • 15-1968-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1967
  • 10-1999-capa-reforma-del-estado-para-la-ciudadania
  • 11-1992-capa-a-crise-do-estado
  • 01-2021-capa-new-developmentalism
  • 07-2004-capa-democracy-and-public-management-reform
  • 2006-capa-as-revolucoes-utopicas-dos-anos-60
  • 03-2018-capa-em-busca-de-desenvolvimento-perdido
  • 09-1993-capa-economic-reforms-in-new-democracies
  • 16-2015-capa-a-teoria-economica-na-obra-de-bresser-pereira-3
  • 2014-capa-developmental-macroeconomics-new-developmentalism

Tempos sombrios e a Cessão Onerosa

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota no Facebook, 8.10.2019

.


O Brasil vive tempos sombrios. Não tanto porque a economia brasileira está estagnada desde 2014, ou porque trocamos um presidente desmoralizado por um presidente que nos envergonha. Mas porque a aliança de um presidente de extrema-direita com as elites econômicas liberais está permitindo que a venda dos ativos nacionais aos outros países assuma proporções inusitadas. 

O Brasil decaiu para a condição semicolonial quando, em 1990, se curvou ao Consenso de Washington e abriu sua economia e passou a ter um regime liberal de política econômica. A abertura comercial significou então desmontar o mecanismo que neutralizava a doença holandesa (altas tarifas de importação e subsídios à exportação de bens manufaturados);  a abertura financeira facilitou a elevação da taxa de juros, cujas causas foram a crise fiscal do Estado e duas políticas: tentar crescer com "poupança externa" (ou seja, com deficit em conta-corrente) e usar a taxa de câmbio para controlar a inflação.  As duas aberturas deram, assim, força aos dois fatores (doença holandesa não-neutralizada e taxa básica de juros muito elevada) que, desde então, mantêm apreciada a taxa de câmbio no longo prazo, tornando, assim, não-competitivas as boas empresas industriais no país. Dada essa enorme desvantagem competitiva, a indústria nacional foi quase inteiramente destruída. Em meados dos anos 1970, representava 25 por cento do PIB; hoje, apenas 10 por cento. 

O neoliberalismo brasileiro, porém, não perdera ainda qualquer compromisso com os interesses nacionais. Foi só agora, depois do impeachment e da Operação Lava Jato, que uma aliança funesta entre o neoliberalismo e a extrema-direita (identificada com a milícia) tornou sem freios a venda dos ativos nacionais. A desnacionalização da Embraer, o enfraquecimento das construtoras nacionais obrigadas a desnacionalizar suas subsidiárias para sobreviver, e, afinal, a venda a outras empresas estrangeiras (várias delas estatais) de mais de 50 por cento do pré-sal. Até ditaduras ferozes como a existente na Arábia Saudita são hoje menos entreguistas que o Brasil.

O último capítulo dessa tragédia nacional está muito bem descrito pelo competente jornalista econômico Carlos Drummond no último número da CartaCapital. O governo apressa-se agora a fazer a cessão onerosa do pré-sal cujo leilão foi marcado para 6 de novembro. Ele espera arrecadar R$ 106,5 bilhões que usará exclusivamente para pagar dívidas, enquanto os estados e municípios deverão ficar com R$ 10,94 bilhões. 

Entretanto, conforme estudo da Associação dos Engenheiros da Petrobras que serviu de base para a matéria de Drummond, "estima-se um valor presente do IRPJ e CSLL a ser pago pelas contratadas de apenas R$ 104,253 bilhões. Assim sendo, o valor presente líquido da receita governamental total decorrente da Rodada dos Excedentes da Cessão Onerosa seria de R$ 653,173 bilhões. Em apresentação na Câmara dos Deputados, a representante do Ministério de Minas e Energia confirmou que o Pré-Sal tem as jazidas de mais alta produtividade do mundo. As melhores jazidas de petróleo mais produtivas do mundo gerariam uma participação governamental de apenas 59%, inferior à possível participação governamental na 15a Rodada do regime de concessão do Brasil da ordem de 60%; na Noruega e em Angola, essa participação é superior a 80%. Na Arábia Saudita, em razão do monopólio estatal, a participação governamental é de 100%. Essa receita de R$ 653,173 bilhões é muito menor que a receita governamental de R$ 987,962 bilhões, caso a Petrobras fosse contratada pela União para as atividades de exploração e produção dos excedentes da cessão onerosa. Desse modo, a Rodada dos Excedentes da Cessão Onerosa pode representar uma perda, a valor presente, de R$ 334,789 bilhões para o Estado brasileiro."

A diferença entre o que diz o governo e o que afirmam os engenheiros é muito grande. Ela reflete a determinação do governo de subordinar aos interesses estrangeiros. Ela mostra quão terrível pode ser para o futuro do país a associação perversa hoje existente entre um governo de extrema-direita e economistas neoliberais para os quais o critério do interesse nacional não existe.