NEW-DEVELOPMENTAL THEORY (NDT)

  • 06-2009-capa-construindo-o-estado-republicano
  • 01-2021
  • 17-2004-capa-em-busca-do-novo
  • 13-1988-capa-lucro-acumulacao-e-crise-2a-edicao
  • 03-2018-capa-em-busca-de-desenvolvimento-perdido
  • 05-2010-capa-globalization-and-competition
  • 10-1999-capa-reforma-del-estado-para-la-ciudadania
  • capa-novo-desenvolvimentismo-duplicada-e-sombreada
  • 01-2021-capa-new-developmentalism
  • 09-1993-capa-economic-reforms-in-new-democracies
  • 2006-capa-as-revolucoes-utopicas-dos-anos-60
  • 11-1992-capa-a-crise-do-estado
  • 2014-capa-developmental-macroeconomics-new-developmentalism
  • 08-1984-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1983
  • 05-2010-capa-globalixacion-y-competencia
  • 02-2021-capa-a-construcao-politica-e-economica-do-brasil
  • 09-1993-capa-reformas-economicas-em-democracias-novas
  • 15-1968-capa-desenvolvimento-e-crise-no-brasil-1930-1967
  • 05-2009-capa-globalizacao-e-competicao
  • 07-2004-capa-democracy-and-public-management-reform
  • 10-1998-capa-reforma-do-estado-para-a-cidadania
  • 05-2009-capa-mondialisation-et-competition
  • 16-2015-capa-a-teoria-economica-na-obra-de-bresser-pereira-3
  • 12-1982-capa-a-sociedade-estatal-e-a-tecnoburocracia
  • 04-2016-capa-macroeconomia-desenvolvimentista

Brasil à venda

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota no Facebook, 22.8.2017

.


Os jornais informam hoje que também a Eletrobrás será privatizada. Mas não se imagine que esteja fazendo isso porque a “administração privada é mais eficiente”. Isto é tolice. Não faz sentido econômico vender empresas monopolistas lucrativas como a Eletrobrás, porque a instituição que regula a eficiência das empresas privadas – um mercado competitivo – não existe nesse caso.



Por que, então, está o governo vender o patrimônio público? Não é apenas por motivos ideológicos, porque para se legitimar perante as elites brasileiras liberais e dependentes esse governo se dispõe servilmente a privatizar tudo. Há duas outras causas de o Estado e o Brasil (este incluindo o setor privado) estarem vendendo o patrimônio nacional.



O motivo que provavelmente desencadeou essa decisão foi o fato que a Constituição, no seu artigo 167, define como “crime fiscal” o governo incorrer em deficit público superior à despesa de capital, ou seja, ao investimento público. Com esse dispositivo o constituinte sabiamente buscou impedir que o governo aumentasse de forma irresponsável a despesa corrente. Resultou, também, do dispositivo constitucional a proibição que os governos em geral reduzam a sua receita irresponsavelmente. Ora, é isto que governo que está aí e o imediatamente anterior vem fazendo a partir de janeiro de 2015 através da adoção de uma política ortodoxa de corte da despesa pública (principalmente do investimento público) e uma política de frouxidão em relação à apreciação cambial, as quais  agravaram e tornaram mais longa a crise econômica iniciada em 2014. Mas o constituinte não previu que o governo encontrasse uma saída para o problema: vender o estoque de capital do Estado, as empresas públicas.



Esse é o motivo mais direto da decisão de vender a Eletrobrás. Há um motivo mais profundo que não se origina apenas neste governo, mas em todos os governos brasileiros desde há muito tempo: são os deficits público e os deficits em conta-corrente altos e crônicos em que incorrem com a legitimação ou o beneplácito dos “seus” respectivos economistas que implicam em aumento da dívida pública e da dívida privada, e são pagos com venda de patrimônio.



Para os economistas ortodoxos, deficits em conta-corrente são uma boa coisa porque representam “poupança externa” que aumentaria investimento; para os desenvolvimentistas populistas ou keynesianos vulgares os deficits públicos são igualmente uma boa coisa porque implicam “aumento da demanda” que faria crescer o investimento. Na verdade, bons economistas sabem que deficits públicos altos e crônicos são mero populismo fiscal, e, desde 2001, eu tenho demonstrado que deficits em conta-corrente são geralmente mero populismo cambial: eles aumentam muito mais o consumo do que o investimento.



Há, porém, uma outra consequência que eu não tenho salientado, mas que me ocorreu diante desta venda geral do Brasil – esta venda que não se limita às empresas e outros ativos públicos; mas inclui também as empresas nacionais incessantemente vendidas a empresas multinacionais. Deficit público e deficit em conta-corrente representam endividamento adicional. Como pagar a dívida? Seria com as receitas extras que resultariam do aumento da taxa de investimento. Mas como já vimos que isso  geralmente não acontece, a “solução” é vender o patrimônio nacional, tanto público quanto privado. É o país empobrecer, em termos absolutos, como está acontecendo nos últimos três anos; é ficar cada vez mais para trás, como está acontecendo há quase quarenta anos, desde que o Brasil parou de fazer o alcançamento.