Luiz Carlos Bresser-Pereira
Nota no Facebook, 27.1.2016
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Os jornais informaram hoje evidente satisfação, que o déficit em conta corrente (déficit comercial mais serviços) que fora de 4.3% do PIB em 2014 caiu para 3,3% em 2015, e foi inteiramente coberto por investimentos diretos estrangeiros. A satisfação decorre de duas coisas: do fato para a maioria dos economistas déficit em conta corrente é boa coisa desde que financiado por investimentos das empresas multinacionais. Boa coisa que eles chamam de "poupança externa", e que se somaria à poupança interna e aumentaria a taxa de investimento do país. Mas, como eu argumento há muito, existe uma alta taxa de substituição da poupança interna pela externa causada pela apreciação cambial que o déficit externo provoca, de forma que em países em que a propensão marginal a consumir é alta, o déficit em conta corrente é geralmente consumo que tem que ser financiado com endividamento externo. No caso dos dois últimos anos, há pouca dúvida a respeito do fato que essa taxa de substituição tenha estado próxima a 100%, dada a baixa taxa de investimento do total país e o crescimento negativo. Como o dinheiro é líquido, o fato de o déficit ter sido financiado também 100% por investimentos diretos ao invés de por empréstimos não mudou nada. Afinal, em 2015, os brasileiros consumiram cerca de 3,3% mais do que eles deveriam consumir sem se endividarem e sem endividar o país.