Luiz Carlos Bresser-Pereira
Página do Facebook, 7.7.2015
Martin Wolf - o notável colunista econômico do Financial Times - escreveu hoje que, se ele fosse grego, teria grandes dúvidas sobre como votar no referendo do próximo domingo. Se votasse sim, estaria certamente condenando a Grécia há muitos anos ainda de não crescimento; se votasse não, haveria o risco do caos. Eu não teria qualquer dúvida. Não apenas porque as reformas e ajustes adicionais que se pedem aos gregos são absurdas. Também por uma coisa que descobri hoje, lendo com mais atenção o Le Monde. Em troca de dar um crédito de emergência que permitiria à Grécia pagar o FMI, a Troika (Comunidade Europeia, FMI e Banco Central Europeu) exige o assentimento do governo grego às suas condicionalidades imperiais e ponto. Não se dispõe a definir como será a "reestruturação" da dívida pública grega que ascende a 174% do PIB! Não se compromete com quanto será a diminuição adicional da taxa de juros e que prazo ainda maior os credores (essencialmente os governos dos países mais fortes da Zona do Euro) darão à Grécia para que ela possa pagar essa imensa dívida. Ora, isto não é negociar; é impor. Como pode o governo grego ceder novamente em relação a mais ajustes e mais privatizações sem saber quanto receberá de volta em diminuição da dívida?
Para a Grécia o "não" é certamente a melhor alternativa. Haverá (já está havendo) uma crise de curto prazo devido à provável saída do Euro, mas logo as coisas se acalmarão. A conta-corrente do país está aproximadamente equilibrada, de forma que para o dia a dia, a Grécia não precisará de financiamento externo. E quanto à dívida pública externa, o governo terá condições de propor uma negociação soberana, que reduza a dívida de maneira radical - por uma simples razão, porque não terá, evidentemente, qualquer possibilidade de realmente pagar uma dívida tão grande.