Luiz Carlos Bresser-Pereira
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Zeina Latif, economista chefe da XP Investimentos, publicou artigo no O Estado de S.Paulo (15.7), “A apreciação cambial vai atrapalhar o crescimento?”, no qual concluiu que quanto mais apreciado o câmbio, maior é o crescimento. Comento esse artigo, porque ele reflete bem o que pensa a ortodoxia liberal e dependente brasileira a respeito da taxa de câmbio. Sua apreciação é bem-vinda; câmbio forte seria sinal de uma economia forte.
Quais os argumentos que a autora apresenta para defender essa tese? A depreciação aumenta a inflação e reduz os salários, nos diz ela. Sem dúvida, mas no curto prazo, e de maneira doentia. Segurar a inflação com câmbio apreciado é tão ruim ou pior para o país do que segurá-la através do preço das empresas estatais. Manter salários artificialmente elevados graças a uma taxa de câmbio apreciada no longo prazo e déficit em conta-corrente é populismo ou irresponsabilidade cambial, da mesma forma que déficits públicos crônicos são sinal de irresponsabilidade ou populismo fiscal.
Mas a economista tem mais argumentos. Ela admite que, entre 2003 e 2008, “o câmbio prejudicou as contas externas, mas não impediu o crescimento econômico”. Por que não teria prejudicado? Pelo mesmo argumento que os populistas de esquerda que apoiavam o governo do PT usavam: “porque o aumento da demanda interna mais que compensou a elevação da penetração das importações e o menor ímpeto exportador”. Ora, dona Zeina Latif, de fato, para a indústria, o aumento do mercado interno compensou a perda do mercado externo causada pela enorme apreciação do câmbio entre 2003 e 2010.
O grande prejuízo – o violento desmonte da indústria brasileira – aconteceu em seguida, entre 2011 e 2014, e foi uma das causas da recessão atual. Nesse período a taxa de câmbio permaneceu fortemente apreciada, ao mesmo tempo em que os importadores de manufaturados inundavam o mercado interno brasileiro. Dessa maneira as empresas industriais, sem competitividade, não apenas não puderam investir. O câmbio fortemente apreciado as levou à crise.
Sim, a apreciação cambial é boa, mas boa para quem? Para os populistas cambiais de direita e de esquerda, que defendem artificialmente não apenas os salários mas também os juros, os alugueis e os dividendos recebidos pelos rentistas. E é boa para os países ricos que financiam o consumo interno com seus investimentos diretos e seus empréstimos.
Os elevados déficits em conta-corrente e o correspondente câmbio apreciado combinados com uma taxa de juros absurdamente alta são os grandes males da economia brasileira. É este desequilíbrio macroeconômico que explica o baixo crescimento da economia brasileira desde a abertura comercial (1990) e o Plano Real (1994). São males que tanto a direita liberal e populista quanto a esquerda desenvolvimentista e populista se recusam a enfrentar. E assim o Brasil vai ficando para trás... para trás...