Luiz Carlos Bresser-Pereira
Nota na página do Facebook, 26.8.2016
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O Brasil enfrenta a pior recessão de sua história, e no entanto os economistas convencionais só falam de uma coisa – a presente crise fiscal – como se fosse ela a causa dessa recessão. Na verdade, é muito mais uma consequência do que uma causa. Não foi apenas a política fiscal equivocada de 2013 e 2014, marcada pelas desonerações de impostos, que causou a crise fiscal atual; foi também a própria recessão e a decorrente queda da receita tributária. As verdadeiras causas da recessão atual foram (1) a brutal queda do preço das commodities exportadas pelo Brasil no segundo semestre de 2014, (2) a grande sobreapreciação da taxa de câmbio desde 2007, que levou as empresas industriais a sofrerem uma queda da taxa de lucros de 16,5% em 2010 para 4,3% em 2014, (3) a manutenção da taxa real de juros Selic em termos reais girando em torno de 9% ao ano nesse período, (4) o grande endividamento das empresas associado à queda de seus lucros, (5) os erros fiscais de 2013-14 que, somados à queda dos lucros, levaram (6) à perda de confiança no governo, (7) a política de ajuste fiscal equivocada de 2015, quando o país já estava em plena recessão, e, finalmente – em consequência de tudo isso – (8) a fragilização financeira das empresas e sua necessidade de reduzirem suas dívidas e (9) a paralisação dos investimentos. É preciso, sem dúvida, enfrentar a crise fiscal, mas ela só será superada com o retorno do crescimento.
Enquanto leio e ouço a “estória” ortodoxa sobre a crise fiscal “estrutural” (não obstante o Brasil tenha atingido suas metas fiscais entre 1999 e 2012), eu tenho insistido que as causas são muitas, e, entre elas, a mais importante foi a alta sobreapreciação cambial no longo período que vai de 2007 ao primeiro semestre de 2014. Foi ela que reduziu a taxa de lucros e levou as empresas a se endividarem. Hoje, porem, lendo o Valor, dei-me conta que há ainda gente que pensa no Brasil ao invés de repetir fórmulas ortodoxas (ou então heterodoxas). Em entrevista, João Sayad afirmou que “câmbio valorizado é a armadilha que nos acorrenta desde 1994”, e, enquanto as autoridades econômicas só falam em ajuste fiscal (aliás, necessário em relação à despesa corrente do Estado), parecendo ignorar que precisam agir para apoiar as empresas, o BNDES destoa e cria uma linha de crédito para ajudar as empresas nas compras de empresas em recuperação.