Luiz Carlos Bresser-Pereira
Nota na página do Facebook, 8.9.2016.
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Em sua coluna de hoje na Folha, Contardo Calligaris escreveu: “Nossa dupla herança maldita é a de ter nascido como colônia de exploração e de ter explorado corpos escravos por séculos”. Desta maneira dura o psicanalista retrata as elites brasileiras, seu conservadorismo, seu racismo, seu caráter socialmente discriminatório. Terá ele razão?
Em apenas um momento na história do Brasil, desde a abolição da escravidão, Calligaris não a teve, entre 1980 e 2012, quando um grande pacto político reunindo todas as classes promoveu a transição democrática e a redução das desigualdades. Naquele momento, e pela primeira vez na história, nos elites econômicas foram solidárias com seu povo.
Mas desde 2013 essas elites, insatisfeita com o baixo crescimento, a baixa taxa de lucro da indústria, e a preferência que o governo dava aos pobres e aos trabalhadores, as elites econômicas, novamente unidas (durante algum tempo a indústria havia alcançado alguma autonomia e apostou no governo do PT) encheram-se de ódio, e deram uma grande guinada para a direita.
E agora essas elites aproveitam da crise da esquerda para tentar destruir o Estado Social, que construímos desde 1985, com uma emenda que congela os gastos reais do Estado, e para procurar derrogar na prática a Consolidação das Leis do Trabalho através de uma emenda constitucional que faz prevalecer as negociações coletivas sobre a CLT. Desta forma, elas voltam tristemente a se submeter à sua dupla herança maldita.