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A liberdade e a honra das pessoas

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota na página do Facebook, 22.9.16.


Recebi com indignação a notícia da prisão preventiva do ex-ministro Guido Mantega, e a suspensão do ato, logo em seguida, porque ele acompanhava a esposa em tratamento hospitalar. Não há motivo minimamente razoável para essa prisão. A justificativa que foi dada – o empresário Eike Batista afirmou que, em 2012, “recebeu pedido do ex-ministro para que fizesse um pagamento de R$ 5 milhões para o PT” – é frágil. A operação Lava Jato estabeleceu no Brasil um regime no qual basta você ser acusado por alguém em dificuldades com a justiça para que isto seja levado para a imprensa e, em seguida, justifique prisão preventiva.



Eu conheço Guido Mantega há muitos e muitos anos, e não tenho qualquer dúvida sobre sua honestidade. Guido é um intelectual, meu colega na Fundação Getúlio Vargas, dotado de grande espírito publico e republicano. Ele herdou um pequeno patrimônio, e, ao invés de procurar aumentá-lo, dedicou-se ao ensino de economia, a uma política de esquerda no PT, e, nestes últimos doze anos, ao serviço público nos governos Lula e Dilma. Quando saiu do Ministério da Fazenda, me disse que perdera patrimônio, e agora precisava cuidar de sua vida privada.



Os justiceiros da Lava Jato não estão permitindo que ele viva em paz, nem que tenha sua honra preservada. O último capítulo dessa perseguição judiciária foi a prisão de hoje. Como se ele houvesse condicionado o atendimento de alguma demanda do empresário a que ele doasse dinheiro ao PT. Guido não fez tal coisa; jamais o faria, como, aliás, comprovam as próprias declarações de Eike Batista. E como se fosse necessário prender Guido Mantega para que as investigações prosseguissem.



Correligionários do PT disseram que a prisão foi um ato de “desumanidade”. Foi mais do que isto. Guido Mantega, como muitos outros políticos, está tendo seus direitos civis desrespeitados. Ora, entre os direitos humanos, os direitos civis são os fundamentais, porque foram primeiro afirmados, ainda no século XVIII, e porque dizem respeito à liberdade e a honra das pessoas.