Luiz Carlos Bresser-Pereira
Nota na página do facebook, 28.9.2016
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A morte de Shimon Peres deixou o mundo sem um estadista. Ele quase logrou a paz com os palestinos ao representar Israel nos acordos de Oslo (1994) que previam a retirada dos colonos da Cisjordânia, o reconhecimento pelos palestinos do Estado de Israel, e o reconhecimento deste da Autoridade Palestina. Dessa maneira israelenses e palestinos caminhavam para a transformação da Palestina em estado-nação. Infelizmente os acordos de Oslo afinal foram paralisados, não obstante os esforços de Shimon Peres, que, a meu juízo, foi o último grande político israelense a lutar pela paz no Oriente Médio.
Eu tenho uma lembrança muito especial dele. Em dezembro de 1987, na véspera do dia em que pedi demissão do Ministério da Fazenda, eu recebi sua visita. Ele me contou então como, em 1985, como primeiro ministro de Israel, ele controlou a alta inflação em seu país, que naquele momento era superior a 80% ao ano. Entre as medidas necessárias a isto ele estava o ajuste fiscal. Ele, então, trancou-se em uma sala com seus 29 ministros e principais assessores e disse a eles que ninguém sairia dali sem que completasse o acordo sobre o orçamento público que garantisse o ajuste. Trinta e seis horas depois, chegaram a um acordo, e a inflação foi controlada.
Enquanto Shimon Peres me contava essa história, eu pensava que fortuna tinha tido o ministro da Fazenda de Israel ao contar com um primeiro-ministro daquele gabarito. E isto reforçou a decisão que eu já havia tomado de me demitir.