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Donald Trump

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota no Facebook, 11 de novembro de 2016

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A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas deixa-nos a todos incertos e temerosos. Hillary Clinton era previsível e detestável. Ela representava a verdade absoluta da razão liberal e imperial que domina o mundo desde os anos 1980 – a razão da competição patrocinada pelos monopólios, a razão da globalização como substituta da nação, a razão do individualismo a serviço dos mais fortes, a razão da democracia imposta através de guerras, a razão do capitalismo rentista e financista ao invés do capitalismo empresário, a razão da estabilidade econômica que agrava as crises financeiras, a razão da luta de classes de cima para baixo, a razão da igualdade que produz mais e mais desigualdade, a razão dos 1% mais ricos, a eterna razão dos mais fortes.

O que significa Donald Trump? Ele muito disse na sua campanha, mas foram tantas as contradições que afinal não sabemos no que ele realmente acredita. Ele insultou os judeus, os muçulmanos, os negros, os latinos, todos os imigrantes. Ele desrespeitou os princípios básicos das sociedades democráticas, os direitos civis, os direitos políticos e os direitos sociais. Mas há sempre uma lógica no seu discurso. É um discurso violentamente nacionalista – não um nacionalismo econômico, que é necessário no capitalismo, mas um nacionalismo também étnico que define a nação americana como uma nação branca. E foi um discurso em busca do voto dos derrotados pela globalização, especificamente em busca dos eleitores brancos (58% dos votos), homens (53%), pouco educados (51%), protestantes (58%), mais velhos (53%), e rurais (50%). Votaram contra ele as mulheres, os jovens, os judeus, os portadores de diploma superior, os negros, os latinos e os asiáticos.

Trump, portanto, desprezou o voto desses três últimos grupos, para lograr o voto dos brancos pobres. Trump não falou em nome de todos os que foram desprezados pela verdade neoliberal. Ele deixou de lado os negros e os imigrantes, que nos Estados Unidos também são vítimas da globalização e do abandono pelas elites da ideia de nação como a ideia de um destino comum, como um princípio de solidariedade a contrabalançar a luta de classes.

Hillary Clinton era a “razão”; Donald Trump é o desconhecido. Não nos resta agora outra coisa senão esperar e temer.