Luiz Carlos Bresser-Pereira
Nota no Facebook, 28.5.2017.
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Novo governo e operação Lava Jato
A operação Lava Jato vem tendo um efeito muito negativo sobre a economia brasileira. Ela paralisou a maior empresa brasileira e as grandes construtoras. Não foi a principal causa da grande recessão. Esta se deveu à crise financeira das empresas industriais, que, prejudicadas por sete anos de forte apreciação cambial (meados de 2007 a meados de 2014), viram sua competitividade e seus lucros desaparecerem, e se endividaram até que, em 2014, pararam de investir. Para esta parada contribuiu a forte queda dos preços do minério de ferro e da soja nesse mesmo ano. Uma terceira causa da recessão foi a política de austeridade fiscal adotada por Dilma e seu ministro das finanças ortodoxo, Joaquim Levy, em 2015, e continuada por Temer. O ajuste deveria ter-se limitado apenas às despesas correntes, mas aconteceu principalmente em relação aos investimentos.
Uma quarta e importante causa da recessão foi a operação Lava Jato. Agora, alguns analistas temem que ela volte a dificultar a recuperação da economia devido à instabilidade que provocou no governo Temer. Não creio, porém, que o governo que substituirá o atual será igualmente vulnerável à operação. A não ser que os políticos brasileiros tenham enlouquecido - o que não é o caso. Temer alcançou o poder através de uma manobra política oportunista de traição a seus compromissos eleitorais e da adoção de uma agenda liberal radical para convencer a direita brasileira capitaneada pelo PSDB de que seria um bom presidente... O novo governo não terá essa mancha original.
O novo governo só fará sentido se for um governo de conciliação, politicamente neutro, que crie condições para as eleições gerais do próximo ano. As reformas ficarão adiadas, mas o simples fato de termos um governo neutro e conciliador já muito contribuirá para que a recuperação cíclica da economia, já iniciada, continue a acontecer.