Luiz Carlos Bresser-Pereira
Nota no Facebook, 1.8.2018
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Morreu Hélio Bicudo, um homem admirável que, porém, manchou sua biografia ao propor e defender o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Eu o conheci bem e o admirava pela coragem cívica e a firmeza de caráter. Quando o PT foi criado, ele foi seu fundador, enquanto que eu, ainda que tentado a seguir o mesmo caminho, continuei no PMDB de Montoro, Covas e Ulysses Guimarães. Porque o PT de então era radical, defendia um socialismo impossível, e eu nunca fui radical. Hélio Bicudo era um radical. Para ele era tudo ou nada. A verdade era uma só; a justiça, uma só. Mas as coisas não são tão simples assim. Nem a verdade, nem a justiça são plenamente alcançáveis. Precisamos lutar por elas, porque são valores humanos fundamentais, mas com prudência, com cautela, porque podemos ver as coisas sob muitos ângulos que são verdadeiros, porque a justiça é um ideal tão belo quanto impossível.
Decididamente, não devemos ser moralistas. Devemos observar e defender os princípios morais, mas jamais nos colocarmos na posição de árbitros da moral, porque ao fazer isso seremos arrogantes e cometeremos mais erros que acertos. O papel de guardião da moral é problemático. Ao invés de moralistas precisamos ser republicanos; precisamos, sim, ter a coragem, a coragem política de adotarmos posições que sabemos consultarem o interesse público, mas conflitam com nossos interesses. Hélio Bicudo foi um republicano, mas seu radicalismo moral acabou por confundi-lo, e ele terminou sua vida política cometendo um grande erro. Assinalo este fato, mas respeito a grande figura pública que ele foi. O Brasil precisa enormemente de cidadãos com espírito republicano, que colocam o interesse público acima de seus próprios interesses, e Hélio Bicudo foi um homem assim.