Luiz Carlos Bresser-Pereira
Nota no Facebook, 20.9.2018
A centro-direita democrática ficou sem candidato.
Depois das últimas pesquisas eleitorais que opõem dois candidatos de centro-esquerda a um candidato fascista, de extrema-direita, a grande imprensa só fala em “polarização” eleitoral, mas o que realmente está acontecendo é uma profunda perplexidade da classe média de centro-direita que, de repente, se viu sem candidato.
Se o Brasil houvesse continuado a contar com um regime político equilibrado, seu candidato seria o do PSDB, que desde o governo Fernando Henrique Cardoso ocupou a posição de principal partido de centro-direita, e seu adversário, um partido de centro-esquerda, o PT. Desde as eleições de 1990, a política brasileira definiu-se por essa oposição clássica, comum entre os países mais desenvolvidos. Não éramos ricos, mas já havíamos realizado nossa Revolução Capitalista, e nosso regime político não era mais um regime venezuelano.
Esta bela alternância democrática durou de 1990 a 2016, quando foi violentamente interrompida por um golpe parlamentar contra a presidente Dilma Rousseff. A ruptura começou antes, no dia seguinte às eleições de 2014, nas quais, para surpresa geral, o PT voltou a ser vitorioso. Os erros ocorridos no governo Dilma e o violento ataque que esse partido sofreu pela operação Lava-Jato, que, no seu início, concentrou-se no PT (só um pouco mais tarde ficaria claro que PSDB e PMDB haviam-se também deixado levar pela corrupção) levavam a prever a vitória da oposição, mas a presidente logrou se reeleger com uma vantagem de cerca de três milhões de votos.
Diante da derrota inesperada, o PSDB e seu candidato derrotado perderam a cabeça. Ao invés de revelarem equilíbrio e tolerância, que são essenciais para a democracia, agiram como um país pré-capitalista, como uma Venezuela, e pediram a nulidade da eleição e o impeachment. Foi um imenso erro. A centro-direita está sempre afirmando que o país arrisca a se tornar uma Venezuela ao se deixar governar pela centro-esquerda, mas quem agiu como se o Brasil fosse esse pobre e desafortunado país foi o PSDB. Algo que foi praticamente reconhecido recentemente por seu líder mais notável, o senador Tasso Jereissati.
A história mostra que a grande demanda pela democracia é sempre das classes populares, mas quem garante o regime democrático de um país é sua classe média. Ao embarcar na aventura do impeachment, a classe média de centro-direita brasileira revelou ter guinado para a extrema-direita. As prévias eleitorais tristemente comprovaram esse fato ao vermos uma boa parte dessa classe média manifestar intenção de votar em um candidato radicalmente oposto à democracia. E obrigaram a parte da centro-direita que é democrática a eleger um candidato de centro-esquerda como Ciro ou Haddad. Se o fizerem, votarão bem, mas não votarão satisfeitas.