Luiz Carlos Bresser-Pereira
Nota no Facebook, 3.10.2018
Nuvens negras pairam sobre o Brasil. De repente, o Ibope e o Datafolha informam que as intenções de voto em Fernando Haddad pararam de crescer, enquanto voltavam a subir para Jair Bolsonaro. A polarização entre um candidato de centro-esquerda e um candidato fascista era algo desagradável. Mais civilizado seria a disputa eleitoral entre a centro-esquerda e a centro-direita, mas as perspectivas claramente favoreciam o candidato socialdemocrata – o que era um bom resultado. Mas agora não há mais certeza de nada. Desde a transição democrática de 1985 e a Constituição de 1988, alguns valores, principalmente a democracia e o repúdio ao racismo, haviam se tornado sagrados para os brasileiros, mas a liderança eleitoral de Bolsonaro nestas eleições colocou em dúvida essa tese. Parecia-me absurda a regressão política de eleitores educados que esse candidato representa, e, no entanto, ela voltou a ser uma possibilidade concreta.
Como explicar tal loucura política? Só o ódio pode explicá-la. O ódio ao PT, que subitamente tomou conta da classe média brasileira nas demonstrações populares de junho de 2013. O impeachment foi o primeiro resultado trágico desse ódio, a eleição de Bolsonaro poderá ser o segundo. Ao agir assim, os brasileiros estão cometendo um suicídio político.
A causa do ódio é o ressentimento. É o fato que, desde as reformas neoliberais de 1990, a economia brasileira parou de crescer. Some-se a isto o fato que, cumprindo o grande acordo político que levou à transição democrática, a Constituição de 1988 e o projeto social dos governos desde Itamar Franco até Dilma Rousseff deram prioridade aos pobres, aos negros e aos trabalhadores, deixando esquecida a classe média, e compreenderemos o ressentimento e a irracionalidade.
Isto não teria acontecido se tanto a centro-direita quanto a centro-esquerda, no governo desde 1985, não houvessem falhado em retomar o desenvolvimento econômico, mas falharam ao aceitar a narrativa neoliberal dominante no mundo rico desde 1980 e no Brasil, desde 1990. Ora, tentar distribuir renda sem realizar crescimento é politicamente inviável. Por isso venho desenvolvendo neste últimos 17 anos uma teoria que é também uma nova narrativa para o desenvolvimento do Brasil – o novo desenvolvimentismo. Que Ciro Gomes e Fernando Haddad incluíram em seus programas de governo. Será que os eleitores acordarão e elegerão um deles? Vamos ver.