Luiz Carlos Bresser-Pereira
Nota no Facebook, 27.3.2019
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O que está acontecendo no Brasil? Como é possível termos um presidente que ao invés de governar, desgoverna? Que ao invés de levar adiante a reforma da Previdência, a sabota? Que ao invés de prestigiar seus ministros, os ignora? Que ao invés de respeitar o Legislativo e o Judiciário, se declara em luta contra eles? Por que esse senhor, cuja vida política está marcada pelo desprezo pela democracia e a defesa da ditadura, da violência policial e da tortura, não honra seu juramento de respeitar a Constituição Brasileira? Por que não para de escrever tweets ideológicos para sua base eleitoral, como se estivesse em campanha, ao invés de enfrentar o problema do desemprego que a lenta recuperação da economia brasileira não logra resolver?
Só vejo uma resposta para essas perguntas. Essa figura não quer resolver problemas, mas está empenhado em criá-los. Não quer fazer os compromissos necessários para governar. Não sabe que a política é a arte de argumentar e fazer compromissos para alcançar a maioria. Pensa que governar dessa maneira não vale a pena. Que precisa de mais poderes para estabelecer a ordem no país – ordem que a democracia teria destruído.
Como poderia esse senhor alcançar esse objetivo? Como relacionar a confusão crescente em que ele está mergulhando o país com seu desejo de mais poder? De uma maneira que é tão racional como absurda. Com o aumento da confusão e da desordem ele espera ser chamado para exercer mais poder, acabar com a “velha política” e submeter a “velha justiça”.
Essa é uma estratégia que só é racional se essa pessoa se julga destinado a salvar o Brasil e acredita que os brasileiros estão em busca desse salvador. Ou é absurda se a democracia é uma conquista da nação brasileira, da sociedade civil brasileira – é algo que o povo brasileiro não está em absoluto disposto a renunciar.
As instituições que garantem a democracia brasileira podem estar em crise, mas são sólidas e constituem uma garantia. A sociedade brasileira, seus jornalistas, seus intelectuais, seus profissionais liberais, seus professores, seus trabalhadores, sua juventude estão começando a se organizar em defesa da democracia. Os empresários e os servidores públicos são sempre mais prudentes, mas eles não estão interessados no retorno do Brasil ao autoritarismo e ao arbítrio. A democracia brasileira é uma democracia consolidada e saberá resistir ao ataque irresponsável que o mal está montando contra ela.