Luiz Carlos Bresser-Pereira
Nota no Facebook, 30.7.2019
O Valor informou hoje que a Bardella, fabricante de equipamentos de grande porte para a indústria, entrou com pedido de recuperação. No seu pedido, informa o jornal, "a empresa destaca que a indústria brasileira, principalmente de infraestrutura, entrou em crise sem precedentes na história do país, afetada pela piora da economia e os efeitos da Lava Jato sobre os projetos da Petrobras e parceiros." Esta é uma notícia triste que confirma o crime que os governos brasileiros vêm praticando contra os empresários brasileiros da indústria e suas empresas, com suas políticas econômicas equivocadas.
O presidente da empresa, Claudio Bardella, além de notável empresário, teve um papel decisivo no desenvolvimento econômico do Brasil nos anos 1970 e, na década seguinte, teve uma atuação destacada na luta pela redemocratização do país. Fomos, então, amigos e companheiros na luta pela indústria e pela democracia.
Em 1980, porém, já estava começando a grande crise da indústria nacional - o violento processo de desindustrialização através do qual a participação da indústria de transformação caiu de 27 por cento para os atuais 10 por cento. Bardella resistiu bravamente às dificuldades enfrentadas - principalmente a uma abertura comercial que desconsiderou o fato que as tarifas aduaneiras eram em grande parte uma forma de neutralização da doença holandesa e, a partir de 1994 (Plano Real) a prática de juros exorbitantes pelo Banco Central.
Ainda em 2009, a empresa estava com suas finanças equilibradas. Mas, a partir de então, teve início um ataque sem quartel à indústria. Primeiro, entre 2009 e 2014, uma taxa de câmbio enormemente valorizada combinada com elevadíssimas taxas de juros. Em seguida, a irresponsabilidade fiscal. Depois, a partir de janeiro de 2015, uma política fiscal procíclica "ortodoxa" que é mantida até hoje. E, finalmente, a Operação Lava Jato, que, em troca da denúncia, julgamento e prisão de corruptos, causou um enorme dano à Petrobras e a seus fornecedores ao mesmo tempo que violentava os direitos básicos de cidadania dos brasileiros e era fonte de injustiça.
Escrevo esta nota com certa emoção. Há tempo não me encontro com Claudio Bardella, mas continuo seu amigo e admirador. Fica, aqui, minha solidariedade.